quarta-feira, 10 de julho de 2013

OUROBOROS, de Eduardo Banks

Prezados Companheiros.

Fomos informados no dia 07 de Julho de 2013, durante uma Reunião Integralista, que o Companheiro Eduardo Banks ainda tem para comercialização alguns exemplares do seu Livro "Ouroboros".

Aos Companheiros que se interessem por Filosofia sugerimos a aquisição da Obra. 

Preço: R$16,00 (o Livro) + R$5,00 (Postagem).

Os pedidos devem ser feitos diretamente à Editora pelo e-mail: banksianismo@gmail.com



RESENHA SOBRE OUROBOROS: UM LIVRO PARA INSTRUÇÃO DE TODAS AS GENTES


1. Introdução

Vida e obras do autor: A formação de Eduardo Banks sempre foi, basicamente, auto-didata. Sua vida escolar transcorreu com diversas mudanças de colégios, públicos e particulares, ainda na fase da instrução primária, parte devido à própria inadaptação à disciplina escolar, parte ao despreparo dos educadores em lidar com aluno diagnosticado como superdotado, todavia hiperativo.

Aos 12 anos ingressou no Colégio Pedro II, mas foi dele expulso menos de dois anos depois, em razão de seu envolvimento com o movimento estudantil “Fora Collor” (1992). Após uma rápida passagem pela Escola Municipal Francisco Manuel, seus pais o matricularam no Centro de Estudos Supletivos (CES), mas o sistema de ensino, baseado na eliminação de matérias por módulos levou-o a abandonar a freqüência ao curso, somente completando o Ensino Fundamental em 2008, quando já tinha 30 anos de idade.

O Ensino Médio foi concluído através do ENEM 2010, grupando as médias do CES (ele voltou a matricular-se, agora no Ensino Médio, em 2009) com a prova do Exame Nacional do Ensino Médio; as dificuldades estavam sobretudo na matemática, e agora também na física e na química, enquanto os módulos das matérias relativas às humanidades eram sempre eliminados rapidamente.

Ingressando no Ensino Superior apenas aos 33 anos, desempenhou, no entanto, diversas funções, desde o fim da adolescência; foi candidato a Deputado Federal pelo PTB em 2006, jornalista colaborador filiado à Associação Brasileira de Imprensa em 2007, jornalista profissional com registro no Ministério do Trabalho em 2009, além de ter sido jurado efetivo do I.º Tribunal do Júri da Comarca da Capital (RJ) entre 2004 e 2008.

Embora afastado das salas de aula dos 14 aos 33 anos, foi neste período que o seu aprendizado mais se intensificou, seguindo um rigoroso plano de leitura que compreendia da História à Filosofia, passando pela Poesia, Música, Teatro, Direito, Religião, e Ocultismo, nunca lendo menos do que 17 livros por ano. Por volta dos 30 anos já havia escrito 4 peças teatrais, e mais de 20 ensaios e pequenos tratados; publicou na Revista Índice sua primeira tradução, vertendo do espanhol o artigo de Juan Carlos Rodríguez Delgado “Duas Visões de Dioniso” sem ter ainda o Ensino Médio, e depois seguiram-se 4 artigos próprios sobre letras e filosofia, publicados na extinta Revista Pontes, sobre quadrados palíndromos, moral robótica, o Satiricon de Petrônio e ateísmo (crítica das religiões). Faltava-lhe escrever um livro; no ano de 2011 esse projeto seria realizado, antes mesmo de freqüentar os bancos de uma faculdade.

2. Textualização.

Ouroboros: Um Livro para Instrução de Todas as Gentes é uma obra de filosofia, inserida na tradição nietzschiana, escrita em aforismos e subdivida em 6 Livros, à maneira dos autores da Antiguidade.

Os fragmentos que compõem a obra, assim como nos livros de Nietzsche, parecem em um primeiro momento não possuírem maior relação entre si; no entanto, ao serem observados em seu conjunto, percebe-se a coesão, formando pequenos blocos interligados, como ensaios filosóficos em que um aforismo completa o sentido de outro enunciado páginas atrás.

A primeira edição é do ano de 2011, custeada pelo autor, que na verdade conseguiu levantar o dinheiro através de uma indenização por danos morais paga por um desafeto seu, que o ofendera, terminando condenado pelo Poder Judiciário em uma razoável quantia. Para garantir ao menos a aparência de não ser uma obra de autor independente, Banks publicou-o por intermédio de uma associação civil por ele fundada em 2007, inscrita como editora na Agência Brasileira do ISBN, o que permitiu a geração de ficha catalográfica do SNEL e o código ISBN 978-85-64486-00-3. O prólogo é do próprio autor, que também compôs o texto da quarta capa, baseando-se nas palavras de uma carta de recomendação escrita pelo Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid, datada de 2006, onde o purpurado o incentivava a continuar escrevendo, e em um artigo de G Valbert e um ensaio de Jean Bordeau sobre Nietzsche, publicados em 1892 e 1893.

O livro é estruturado da seguinte maneira: um prólogo em seis aforismos, seis “livros” de quinze aforismos cada, e uma poesia em quinze estrofes de cinco versos, intitulada “A Canção da Caverna”. O prólogo começa com a frase “Pera instruçaõ de todalas gentes” (imitando a ortografia do Século XVI), e a canção termina com o verso “Pera instruçaõ de todalas o fiz”, de maneira que o início e o fim da obra são encadeados como um ouroboros, símbolo cabalístico de etimologia controvertida e que significa um dragão (ou serpente) mordendo a própria cauda. A razão de ser do “para instrução de todas as gentes” é análoga ao projeto exposto por Tommaso Campanella em uma de suas cartas, onde o polígrafo italiano dizia querer “instruir a todas as nações” com a sua extensa obra.
O assunto do primeiro livro é “Da Natureza e Tendências Humanas”, onde expõe logo no início, uma doutrina baseada na moral do interesse, descrito como sendo “princípio de todas as tendências humanas”; Banks professa a tese de que mesmo as ações aparentemente desinteressadas, como nos atos de heroísmo ou de sacrifício, possuem um interesse particular de quem a pratica, visto que a satisfação do sentimento do dever cumprido já é, de per si, uma forma de gratificação. O livro primeiro estabelece que os homens têm uma natureza única, mas são desiguais entre si, na medida de suas aptidões e habilidades, de modo que se é tão mais superior quanto maior
for o seu poder criativo. Nega a existência de “progresso” no sentido comum do termo, dizendo que tudo o que hoje existe, estava em potência desde o início dos tempos — com o que subentende um eterno retorno do mesmo a continuamente trazer o futuro para o passado, e o passado para o futuro.

O segundo livro, “Da Ética”, aprofunda as concepções do primeiro, que assentava o dinamismo sensível em torno do prazer e da dor, acompanhando de perto as lições de Régis Jolivet (cujo “Curso de Filosofia” foi uma das principais leituras do início dos estudos filosóficos de Banks), mas distanciando-se do seu “mestre” no livro segundo, ao considerar que o homem não tem por fim último a felicidade, mas apenas a superação de suas indigências (segundo o conceito de Spinoza), ou seja, que a busca da felicidade  é mais importante do que a própria felicidade, porque a busca faz o homem mais forte e o obriga a progredir, o que não aconteceria se pudesse repousar em um “jardim de delícias” desde o princípio. O “amor do próximo” na verdade é o amor de si mesmo, uma vez que o “si mesmo” é mais “próximo” do que qualquer outra pessoa, com o que procura tornar mais clara a afirmação de Nietzsche, pela boca de Zarathustra, de que o amor do próximo é mais intenso do que o amor ao mais distante; no caso, Banks interpreta o “mais distante” como sendo qualquer outra pessoa que não ao “si mesmo”. O livro segundo conclui assentando que apesar da inexistência de qualquer objetivo para a vida, ela está acima de quaisquer valores, porque os valores têm como medida justamente o quanto possam concorrer para que se possa bem viver.

No terceiro livro, intitulado “Da Estética”, a arte é tratada como metáfora da própria vida — com o que o terceiro livro se encadeia no segundo, embora aparentemente trate de “estética”, enquanto o segundo cuidaria da “ética” — afirmando uma produção artística que seja criadora do feio assim como do belo, pois lhe importa superar a noção tomista de que “o belo é o que agrada ver”; o “belo”, para Banks, é também o que possa não agradar ver, mas o que é, tal e como se apresenta na vida, visto que o seu projeto é o de viver a vida não como um jogo, mas como obra de arte. Neste livro são apresentados os conceitos de Ars-Aretê e Ars-Tecnê, identificadas como a arte clássica e a arte moderna, semelhantes aos conceitos de apolíneo e dionisíaco, naquilo que têm de estático e de dinâmico quanto à interação do observador na compreensão final da obra.

O quarto livro, “Metafísica”, rompe audaciosamente com a Metafísica clássica, ao pretender uma causação evolucionista, em que o mais simples dá curso à vinda do mais complexo. Este pensamento, embora pareça ligado à “Monadologia” de Leibniz (de certa forma homenageado, no número “90” de aforismos do livro), rejeita as conclusões no sentido da individualidade da mônada ou da imortalidade de sua individualização; o modelo de universo mostrado na “metafísica” de Banks é o do “mundo do devir”, em seus aspectos os mais dionisíacos, culminando com a afirmação de que tudo não apenas pode retornar, como ainda se encontra preservado no passado.

No quinto livro, nominado “Canônica”, é exposta uma Teoria do Conhecimento que confronta ao mesmo tempo os postulados materialistas e idealistas; sem pretender conciliá-los uns com os outros, Banks assevera que o conhecimento é engendrado no sujeito da percepção, assim descartando o projeto kantiano da “coisa em si”; segundo Banks, os fenômenos interagem com os órgãos dos sentidos, de modo que eles têm, assim, uma certa existência; mas como somente são reconhecidos tais como se apresentam por convenções criadas pelo cérebro, tudo aquilo que conhecemos na verdade é interpretação que o sujeito faz daquilo que pode perceber.

O sexto e último livro, tem o nome de “Teodicéia”, mas não procura nem afirmar, nem negar a existência de Deus ou de sua Providência; ao contrário, Banks diz que não há processo lógico-abstrato no trabalho de confutar ou negar Deus, porque em nenhuma das hipóteses é necessário investir contra as percepções dos sentidos, de modo que somente o próprio Deus seria capaz de conceber uma demonstração de sua própria existência, mas que seria compreendida apenas por Ele mesmo. A obra termina dizendo que “a mais alta idéia que o Homem faz de si mesmo é o seu Deus” (com o que parece aproximar-se de Eliphas Levi, mas sem as conclusões de seu ocultismo) e que é chegado o tempo de aparecer “um novo homem e novos deuses”, em paráfrase da letra do Livro do Apocalipse, que termina com a visão de “um novo céu e uma nova terra”. No entanto, a última frase do livro é “Consta ainda que um divino pastichador por estes dias levasse à cena um Ditirambo”, outra paráfrase de Nietzsche (que, por sinal, em momento algum é chamado pelo seu nome, mas referido por expressões como “outro antes de mim”), que inscreveu na epígrafe dos “Dionysos-Dithyramben” a frase “Consta ainda que um bufão divino por estes dias escrevesse os Ditirambos de Dioniso”, apenas três dias antes de sofrer o colapso cerebral em uma rua de Turim.

A “Canção da Caverna” é uma conclusão da conclusão. Escrita em versos, coincide com a poesia “Aus hohen Bergen” que arremata o livro “Além do Bem e do Mal” de Nietzsche, sendo que nada ali é coincidência; este poema é também como um livro dentro do livro, capaz de ensejar por si uma análise crítica à margem deste trabalho, mas em linhas gerais, aponta-se que Eduardo Banks teve o requinte de escolher cada rima com uma palavra em português que soasse parecida com a rima correspondente da palavra em alemão da poesia “Aus hohen Bergen”; por exemplo, esta começa dizendo“O lebens Mittag! Feierliche Zeit! / O Sommergarten!”, enquanto aquela principia por “Eis o dragão de majestoso aspeito! / Ouroboros sereno!”, em que o “-eit” e o “-arten” do alemão foram equiparados a “-eito”, “-eno” em português. A “Canção da Caverna” começa descrevendo um dragão mordendo a própria cauda no interior de uma caverna, representando assim o pensamento do Eterno Retorno dentro do corpo (dragão-mente, caverna-corpo); por sinal, a palavra “dragão” é empregada seis vezes, aludindo aos seis aforismos do prólogo e aos seis livros que compõem a obra, invocando por três vezes o seis, número do homem, na Cabala. Depois a canção passa em revista aos filósofos gregos, detendo-se em elogiar apenas a Heráclito, porque ele também concebera um mundo em contínua mutação, impelido pelo fogo; por fim, anuncia a chegada de outra filosofia, representada em Zarathustra, referido veladamente nos versos “O que contempla os astros vem dançante, / Que a cave é o corpo e eu sou o ser pensante!”, visto que o nome de Zarathustra significaria “estrela flamejante”, e o próprio Nietzsche descrevia o seu estilo como uma “dança”, e que Zarathustra era um “dançarino”, indicando com isso a integração entre mente/corpo, oposta à dissociação do corpo e da mente, dicotomizados por Platão.

3. Reflexões Teóricas e Metodológicas.

O autor optou pelo estilo aforismático, comum aos românticos alemães, como Novalis e Shelling, porém ainda mais em Nietzsche, que elevou o fragmento à altura e dignidade de forma literária consciente.

Ele, no entanto, se distancia do modo de um pensamento sistemático, apesar da coerência interna dos aforismos entre si; não é um pensador de sistema, mas sim, de problemas. O autor não se pretende dono de uma verdade, embora o subtítulo da obra seja “para instrução de todas as gentes”; a rigor, o que Banks quer “instruir” o leitor é a maneira de raciocinar por si mesmo, inclusive criticamente, como logo de início exorta no prólogo a que “no gosto do filosofar, onde se alcança o senhorio não só dos particulares negócios, mas também o da própria pessoa, foi que descobrimos estes fragmentos, é naquele mesmo regalo de ter-se a sapiência, que outros tantos se poderão achar” e “assi leixamos esta aos que nela tiverem agrado e, mais do que simples ledores e repetidores, queiram aumentá-la e comentá-la”.

O método de Banks é o de produzir uma obra aberta, aceitando múltiplas interpretações, tal como no seu conceito de Ars-Tecnê exposto no livro terceiro, de uma obra de arte em mutação, que ganha um novo sentido para cada novo observador, em contraste à Ars-Aretê, que é a obra de arte estática, que não interage com o observador.

4. Avaliação.

O livro tem um caráter inédito na filosofia brasileira, se é que pode ser considerado como “brasileiro”, visto romper com todos os padrões da filosofia em terras tupinikins, mais parecendo um transplante do Século XIX alemão, tanto estilisticamente, quanto metodologicamente; no entanto, é nisso que reside a sua atualidade, face o interesse crescente pela produção de Nietzsche, Novalis, Hölderlin, autores que ainda têm algo de provocador a ser enfrentado, mesmo em face de tantas mudanças havidas na sociedade ao longo do Século XX, todas elas mais na aparência do que nas estruturas do pensamento, ou em sua profundidade.

O livro somente deve ser lido por estudantes ou professores de filosofia já acostumados a Nietzsche; para estes, a obra talvez pareça um tanto familiar, apesar de não ser uma mera imitação servil do modelo nietzscheano; onde o autor quis chegar mais além, ele se aventurou a ir, tanto que nem cita o nome de Nietzsche em toda a obra, como que a dizer para a comunidade filosófica que “Eu também sou tal e tal. Em absoluto, não me confundam”.

Os que não forem nem um pouco iniciados na linguagem empregada por Nietzsche terão sérios problemas à compreensão do texto, inclusive pela necessidade de se conhecer de antemão conceitos como o Eterno Retorno, que vem a ser a “pedra de toque” da obra, insinuada desde o título até o último verso da “Canção da Caverna”.

5. Bibliografia consultada.

BANKS, Eduardo. Ouroboros: Um Livro para Instrução de Todas as Gentes. Rio de Janeiro, Associação Eduardo Banks, 2011.

JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Agir, Rio de Janeiro, 1961.

NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal: Prelúdio para uma Filosofia do Futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

_____. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução Mário da Silva. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1995.

_____. Ditirambos de Dionísos. Tradução de Manuela Sousa Marques. Lisboa: Guimarães Editores, 1986.

_____. Ecce Homo: como alguém se torna o que é. Tradutor: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

LEÃO, Emmanuel Carneiro, e WRUBLEWSKI, Sérgio. Os Pensadores Originais: Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Vozes, Petrópolis, 1991.

MONTEIRO, Américo Enes. A recepção da obra de Friedrich Nietzsche na vida intelectual portuguesa (1892-1939). Universidade do Porto, Porto, 1997 (dissertação de doutoramento).

PLATÃO. Diálogos (Mênon/Banquete/Fedro). Tecnoprint, Rio de Janeiro, sem data.

_____. Fédon. Atena, Rio de Janeiro, 1959.

PRÉ-SOCRÁTICOS. Obras incompletas. São Paulo: Abril cultural, 1973. (Os Pensadores).


_____. In: BORNHEIM, G. (Org.) São Paulo: Cultrix, 2000.

3 comentários:

  1. Está à venda na Livraria Begni, no Centro de Itaperuna, a 15 reais o exemplar.

    Para quem for a Itaperuna, o endereço é Avenida Cardoso Moreira, nº. 647, Centro (perto do Bob's), telefone (22) 3822-2346.

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  2. Parabéns pela obra no estilo que só um verdadeiro nietzschiano poderia compor em tão grande mestria!
    Li e recomendo!

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